O terrorismo não é de hoje. Já em 1836
se falava em terrorismo na Europa enquanto emprego sistemático da violência
para fins políticos, especialmente, a prática de atentados e destruições por
grupos cujo objetivo era a desorganização da sociedade existente e a tomada do
poder. O terrorismo também pode ser entendido como atitude de intolerância e de
intimidação adotada pelos defensores de uma ideologia, sobretudo nos campos
literário e artístico, em relação àqueles que não participam de suas
convicções. É sobre essa faceta cultural do terrorismo que desejo fazer uma
reflexão mais demorada.
Quero, aqui, analisar os motivos que
aproximam o terrorismo político e o terrorismo pedagógico, sustentando a tese
de que, assim, como o fenômeno Auschwitz, onde pelo menos 2,5 milhões de
pessoas foram duramente massacradas, e que levou a Alemanha a rever seu sistema
educacional no pós-Guerra, o fenômeno NY deveria levar, também, as autoridades
norte-americanas a repensarem sua educação política após a destruição do World
Trade Center e parte do Pentágono.
A tragédia, no centro do mundo, merece
um demorado olhar dos educadores e de todos que operam com a alma coletiva.
Todos devem ter uma compreensão do fenômeno do terrorismo político e de suas
manifestações desagregadoras como resultantes de um longo processo de formação
de atitudes no meio educacional.
No caso dos Estados Unidos, o
terrorismo está muito presente no cotidiano norte-americano. Vez por outra,
vemos, na mídia, o que tem acontecido com as high schools (escolas de ensino
médio). As high schools americanas são as principais responsáveis pelo ambiente
feroz na escola e pelo clima tenso e beligerante sobre as minorias dentro e
fora dos Estados Unidos. São esses modelos de instituições de ensino que forçam
seus alunos a se agruparem de acordo com o prestígio e seus talentos. Quem não
segue as regras e os ritmos dessas ''escolas nobres'' são considerados
perdedores.
Quando os jornais do mundo inteiro
estampam em suas manchetes que Bush prometia vingança e que o Estado Unido iria
entrar numa monumental luta do bem contra o mal, esse clima de resposta
automática não é obra de ocasião, mas vem do aprendizado da beligerância
adquirido no meio escolar.
Não há como separar terrorismo político
do terrorismo pedagógico, presente nas instituições de ensino, de modo a
exigir, de todos nós, uma discussão e uma reflexão a fundo sobre o papel social
da escola na formação de valores de crianças e adolescentes, que vai muito além
da preocupação de professores, alunos e pais com os altos escores alcançados
nos vestibulares. Ainda que a primazia nas provas seja a cobrança do
aprendizado dos conhecimentos formais, a tolerância recíproca, o respeito às
diferenças, enfim, o desenvolvimento humano deve ser o principal objetivo da
educação pós-moderna.
O primeiro sinal do terrorismo
pedagógico, que nasce na escola e que pode chegar ao centro do mundo, através
do terrorismo político, está na prática dos docentes. A realidade no meio
escolar indica que muitos professores são mais instrutores e menos educadores e
o mais grave: muitos são maus professores, capazes de cometer muitas
atrocidades contra seus próprios alunos. Em Auschwitz, nos relata Adorno, em
seu Dialética do Esclarecimento, muitos professores judeus, vítimas do
genocídio, reconheciam durante execuções, seus ex-alunos entre os soldados mais
ferozes.
O terrorismo psicológico, envolvendo
agora toda a civilização moderna, não é diferente do terrorismo político. O terrorismo
psicológico, bem exemplificado na ameaça de vingança que Bush possuía, era sinal
de intransigência de atitudes de quem patrocinava a barbárie ou de quem sofreria
na pele.
Quando pessoas, sejam, políticos ou
professores, embargam a voz, algumas vezes pode não significar emoção, mas
repressão que logo se lançará, como flecha, num alvo certo: os seres humanos.
Todos os dias, nas escolas do mundo inteiro, são destruídos Worlds Trades Centers e
Pentágonos no coração e na alma das crianças, adolescentes e adultos.
(adaptação do texto
de Vicente Martins, por Luiz Vieira)
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